sábado, 1 de outubro de 2011

HaiKais - Paulo Leminski

confira
tudo que respira
conspira



passa e volta
a cada gole
uma revolta



bateu na patente
batata
tem gente



verde a árvore caída
vira amarelo
a última vez na vida



nada me demove
ainda vou ser o pai
dos irmaos karamazov



na rua
sem resistir
me chamam
torno a existir



debruçado num buraco
vendo o vazio
ir e vir



casa com cachorro brabo
meu anjo da guarda
abana o rabo



amei em cheio
meio amei-o
meio nao amei-o



pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando



abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno



o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado



primeiro frio do ano
fui feliz
se não me engano



ano novo
anos buscando
um ânimo novo



tarde de vento
até as árvores
querem vir pra dentro



longo o caminho
até uma flor
só de espinho



nadando num mar de gente
deixei lá atrás
meu passo a frente



a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome



acabou a farra
formigas mascam
restos da cigarra



essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira



relógio parado
o ouvido ouve
o tic tac passado



-- que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda





Fonte: Haikais

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