domingo, 30 de outubro de 2011

Guerra de trincheira - Charles Bukowski

abatido pela gripe
bebendo cerveja
o rádio num volume
suficientemente alto para superar
os sons produzidos
pelo estéreo das pessoas que
recém se mudaram
para casa
ao lado.
dormindo ou acordados
eles ajustam seu aparelho
no volume máximo
deixando suas
portas e janelas
abertas.

cada um deles tem
18, casados, vestem
sapatos vermelhos,
são loiros,
magros.
tocam de
tudo: jazz
música clássica, rock,
country, moderna
contanto que esteja
alta.

este é o problema
de ser pobre:
temos de conviver com
o som dos outros.
semana passada foi
minha vez:
havia duas mulheres
aqui
brigando entre si
e elas
correram pela calçada
gritando.
a polícia veio.

agora é a vez
deles.
agora caminho
pra lá e pra cá em
meus calções sujos,
dois tampões de borracha
enfiados bem fundo
em meus ouvidos.

chego a pensar em
assassinato
esses coelhos
pequenos e rudes!
pedacinhos ambulantes
de ranho!

mas na nossa terra
e do nosso jeito
nunca terá havido
uma chance;
somente quando
as coisas não estão
indo tão mal
por um instante
que esquecemos.

algum dia cada um
deles estará morto
algum dia cada um
deles terá um
caixão separado
e então haverá
silêncio.

mas por ora
é Bob Dylan
Bob Dylan Bob
Dylan por aí
afora.


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