domingo, 11 de outubro de 2009

Poemas de Gregory Corso

Alô

Gregory Corso

É desastroso ser um cervo ferido.
Eu estou muito ferido, os lobos rondam
e tenho meus fracassos também.
Minha carne ficou presa no Gancho Inevitável!
Quando criança vi todas as coisas nas quais não queria me
transformar.
Serei a pessoa que não desejava ser?
Aquela pessoa que-fala-sozinha?
Aquele de quem os vizinhos caçoam?
Serei eu aquele que, nos degraus do museu, dorme de lado?
Estarei usando aroupa do cara que falhou?
Sou um sujeito lunático?
Na grande serenata das coisas,
serei a passagem mais cancelada?
NAS MÃOS ESTÁ MINHA CIDADE

Nas mãos está minha cidade, minha lira
E em minhas mãos está a pira
E minha mãe ouve Corelli
enquanto minhas mãos estão em chamas

O NOVA-IORQUINO

Ele está em Cambridge
E agora bate em minha porta
Ele é o cara de Nova York;
tem olhos enormes de neon
seu olhar despeja
jazz pelo meu chão
Mas ele estava mesmo lá?
Podia ser um rádio,
ou um órgão de fundo
ali alucinado.
Podia ser eu mesmo
me visitando em pleno jazz,
com receio de bater.

CAVALO COM LEITE

Num quarto a colher sobre o fogo
A cozinhar o desejo secreto.
Tudo cozido, ele apanhou um cinto
e correu antes do cavalo derreter.
O cinto foi preso em volta do braço;
a agulha bem limpa para não haver danos
e apertando, apertando, uma veia surgiu.
Com uma puxada o braço começou a doer.
Com mão firme ele esperou inchar -
esperou o sonho que a si orfertava.
E então a agulha avançou plenamente
Mas o cavalo tinha leite, e não deu barato.
Ele foi ao chão sem fazer ruído,
e girou os olhos como um carrossel.
Então se esfregou e sacudiu e puxou os cabelos,
vomitou ar, nada mais do que ar.
No fundo da noite ele rolava e rugia.
Ó alma, você nunca esteve tão chapada neste mundo.
fonte: Gasolina & Lady Vestal, L&PM, 1985
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